Mas se você me encontrasse hoje, me reconheceria? Poderia ser uma avenida movimentada, onde as pessoas se esbarram sem se dar conta das trajetórias umas das outras, ou sequer das suas próprias. Ou em uma daquelas ruas feitas de silêncio em que passeávamos de mãos dadas e corações divididos, brincando de fazer planos ou pirraças. A gente traçava esquinas em constelações e se perguntava se havia razão naquilo tudo.
Hoje, eu me pergunto: você me reconheceria? Talvez sim. Quem sabe somente você fosse capaz de encontrar em meio à tralha, pontos finais e exclamações, aquele brilho de acreditar sem medo e com vontade no amor correspondido, na verdade das palavras, na pureza do olhar. Vai ver que lá no fundo, só você preencheria as sequências vazias de tantas interrogações e os finais de tarde em que me perguntava se havia razão naquilo tudo.
Quando viajo entre pensamentos e realidade, bem lá no fundo eu sei que só você compreenderia esses dias tumultuados em que nada parece fazer sentido, mas que são os que mais trazem os sentidos. Só você reconheceria essa minha loucura de vivê-los tão intensamente assim como os melhores dias. Aqueles em que seus braços pareciam me dizer em silêncio que nada poderia me tirar dali, que nenhum mal nos atingiria, que nenhum tempo ou distância nos dividiria. Porque havia sim razão naquilo tudo.
E se você não me reconhecesse? Ou não me reconhecesse em mim? Sufocaria o desencontro daquelas promessas, a verdade daquele encontro. Apagaria o sorriso guardado, perderia o sentido dos braços abertos, do coração à espreita. E nunca mais eu acreditaria que há razão em tudo.
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