Sempre amante das entrelinhas e
daquele sorriso de canto de boca que marcara seus mais doces sonhos, ela não
desconfiava que crescer também significava não confiar mais nesses tipos de
magias. Tantas outras já haviam escorrido pelo ralo da realidade... Não se
engane, menina: o peso do silêncio, por muitas vezes, sufoca. Entrelinhas não
são mais ingredientes que trazem o sabor de encanto às porções. Quando nos
tornamos gente grande, elas se tornam melodias sem letra. E só.
Das linguagens da alma, o que não
foi dito talvez seja a mais perigosa. É preciso perspicácia para lidar com ela.
É preciso verdade e ela anda tão escassa. Muitas vezes não precisa tê-lo
entalado na garganta para se absorver doses do veneno. Pouco a pouco o que não
foi dito pode também bater à sua porta e desmanchar suas crenças. Ou pior: pode
nunca ser dito.
O problema do não dito é
justamente, a vontade de que venha a ser. É tão comum que construamos castelos e até sonhos sobre não ditos. Tudo porque ele parece ser fulgás, passageiro.
Parece que o que não foi, será dito em instantes, depois da curva. Depois de se
olhar mil vezes para conferir a caixa de entrada. De emails, de mensagens, de
amores não vividos.
Não, não precisa pintar a boca,
menina. Para ser mulher, são outras os tons que se mostram. Aprenda que o tom do
que não foi dito é traiçoeiro muito mais aos olhos e à alma que aos ouvidos. É
preciso atenção para não se perder na grande bagunça que é a sua memória.
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