Eu quero te pedir desculpas. Talvez soe um tanto patético
por ser tão tarde, mas eu preciso te pedir desculpas. É que subir ouvindo
aqueles fogos me calou. Estanquei-me diante da impotência que essa minha falha
nos causou. Falha sim, omissões sempre serão falhas também: o bem que deixamos
de fazer, o amor que adiamos para expressar.
Caramba, você andando ali do meu lado e o coração doendo
cada vez mais. Assumo a culpa agora. Desculpe a minha geração por ter acordado
tarde demais. Desculpe também aqueles mais atrasados, que ainda dormem
eternamente em berço esplêndido.
Desculpe-me por ter guardado os sonhos em caixas difíceis de
organizar. Desculpe-me por ter demorado tanto para ouvir os barulhos na varanda
e os doces latidos. Desculpe-me por deixar para depois o começo da terapia, e
por protelar a busca por algo que verdadeiramente preenchesse o vazio das
noites de terça. Adiar tudo isso me emperrou, você
consegue ver? Como amarga enxergar essas pequenezas que poderiam ter despertado
mais cedo uma pessoa melhor.
Peço desculpas com vergonha também, entende? A gente cansava
de bater no peito, orgulhosos por ser alienados, por odiar política e não se
importar. Mas olha, eu quero correr atrás do prejuízo. Será que ainda dá tempo?
Para tentar compensar, prometo estar de olhos mais abertos, questionamentos na
ponta da língua e com disposição para encarar as lutas. Posso garantir também
levar mais a sério o que pode ensinar algo e procurar sempre me informar. Para
ajudar um pouco, aprendi novas palavras, como dizia Drummond. Feminismo,
empatia, direitos, humanos.
Em tempo, desculpe mesmo a minha geração. No meio da tralha
da herança de desigualdades, violência e falta de amor, é possível avistar
tesouros. Encontrei mãos que apontaram caminhos e outras que, num gesto simples,
apenas se entrelaçaram às minhas. Nunca se engane: unidas elas constroem pontes
e desconstroem preconceitos. Elas até tornam algumas palavras mais belas também,
Drummond. Gratidão, encontro, irmão.
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