sábado, 9 de setembro de 2017

Seguir

Eu não precisava passar por aquele caminho, mas senti que era necessária mais essa etapa e segui. Passei ali em frente, onde tantas vezes significou chegada, frio na barriga e respiração ofegante.

Tantas vezes eu lhe pedi pra aproveitar enquanto eu estava ali. Talvez não tenham sido tantas, mas eu pedi. Sabia que uma hora iria seguir e não olharia pra trás. Não é questão de orgulho, veja bem. É autopreservação, é cuidado. Quando se torna preciso seguir é porque ali não nos cabe mais e isso, não posso aceitar. 

Hoje eu sei que estava mesmo certa. O adeus veio sem abraço de despedida, sem beijo com gosto de saudade. Você insiste que não precisa tanto, só um tchau ou até logo. Como pode ser tão fácil pra você? Porque sabe, não muda muito. Não diminui o vazio que entala na garganta, engasga. Engole o peito, transborda pelos olhos com gosto amargo e nos torna repetitivos. Adeus, tchau, até logo: todos eles querem dizer seguir. Seguir sem você. 

Imagem: Freepik

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Texto definitivo para o inverno passar

Desligamos a ligação, que não era só telefônica. Não se passaram muitas horas desde aquele momento, mas o fluxo de pensamentos e lembranças, pelo contrário, acusam a passagem de alguns meses. 

Eu sei, parece tão pouco diante de uma vida inteira. Não foi toda ela que eu vivi antes de você chegar por aqui? Seja bem-vindo, eu disse, preste atenção nos detalhes. Ali tem uma pizza - "que delícia!" -; mais adiante, um ótimo lugar para ver o pôr-do-sol; no cinema, nunca vamos conseguir um filme bom. Fico me perguntando se deu tempo de lhe apresentar tudo. De me apresentar toda. E agora, a pizzaria passou a abrir também para o almoço. 

Eu sei que parece pouco diante de uma vida inteira. Mas tente sentir intensidade.
Não sei se seria possível, tem gente que já vem com essa mania boba, enquanto outros conseguem ficar só "de boa", você me dizia. Mas experimente intensidade. Cabe uma vida inteira em alguns meses. E cabem todos esses meses entalados na garganta, na hora que, em meio à rotina, um suspiro tenta, sem sucesso, expressar que é dor sim, o vazio que ficou. Parece caber só você no banco do carona, que me olha de volta também dizendo muito sobre vazio.

Ficaram lacunas, sei também. E como você sabe que adoro teorias, uma delas é a de que foram elas que nos engoliram e, por isso, a distância não nos coube mais, afinal. Foi assim que seguimos. Eu sigo. Esquecendo a panela no fogo enquanto tento encontrar palavras pra descrever nós dois, fazendo um caminho todo errado ao me distrair com um carro que lembra você. Mas não nego que ficou também, em meu tom melodramático, um medo bobo de passar por aquela rua, de voltar ao cinema sem segurar sua mão (o filme vai ser ruim mesmo!), de não conseguir apresentar a cidade ou a mim mesma novamente tão cedo. Só não ficou você. 

Imagem: Google