sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Texto definitivo para o inverno passar

Desligamos a ligação, que não era só telefônica. Não se passaram muitas horas desde aquele momento, mas o fluxo de pensamentos e lembranças, pelo contrário, acusam a passagem de alguns meses. 

Eu sei, parece tão pouco diante de uma vida inteira. Não foi toda ela que eu vivi antes de você chegar por aqui? Seja bem-vindo, eu disse, preste atenção nos detalhes. Ali tem uma pizza - "que delícia!" -; mais adiante, um ótimo lugar para ver o pôr-do-sol; no cinema, nunca vamos conseguir um filme bom. Fico me perguntando se deu tempo de lhe apresentar tudo. De me apresentar toda. E agora, a pizzaria passou a abrir também para o almoço. 

Eu sei que parece pouco diante de uma vida inteira. Mas tente sentir intensidade.
Não sei se seria possível, tem gente que já vem com essa mania boba, enquanto outros conseguem ficar só "de boa", você me dizia. Mas experimente intensidade. Cabe uma vida inteira em alguns meses. E cabem todos esses meses entalados na garganta, na hora que, em meio à rotina, um suspiro tenta, sem sucesso, expressar que é dor sim, o vazio que ficou. Parece caber só você no banco do carona, que me olha de volta também dizendo muito sobre vazio.

Ficaram lacunas, sei também. E como você sabe que adoro teorias, uma delas é a de que foram elas que nos engoliram e, por isso, a distância não nos coube mais, afinal. Foi assim que seguimos. Eu sigo. Esquecendo a panela no fogo enquanto tento encontrar palavras pra descrever nós dois, fazendo um caminho todo errado ao me distrair com um carro que lembra você. Mas não nego que ficou também, em meu tom melodramático, um medo bobo de passar por aquela rua, de voltar ao cinema sem segurar sua mão (o filme vai ser ruim mesmo!), de não conseguir apresentar a cidade ou a mim mesma novamente tão cedo. Só não ficou você. 

Imagem: Google

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