quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Virando esquinas

O espaço em branco com fome de palavras me assusta. Nunca me dei muito bem com essas histórias de fome e comidas. Acho que nem me levam a sério quando desabafo a minha dificuldade em lembrar de comer. Passo a pensar que minha fome mesmo é de vida.

Virando esquinas, o veículo em alta velocidade carrega apenas a mim, o cobrador, um rapaz que encosta no vidro da janela com o livro aberto sobre o colo e uma moça, que mais atrás usa a mesma janela para descansar de toda a vida do dia. Penso na vida aberta diante de mim. Aqui dentro, tenho andado devagar demais para acompanhar a rapidez com que o motorista torna a encontrar outra esquina.

Parece que o tempo de imaginar o futuro passou e não existe outra hora que não seja o agora. Gente nem tão grande assim também cresce, menina. Não é mais só tirar a maquiagem, guardar a panelinha rosa, o cheque feito a mão e a pequena máquina de escrever para deixar de ser adulto e voltar a dormir criança. Hoje, o travesseiro nem sempre representa descanso. Às vezes, é o momento mais movimentado do dia e os pensamentos secam o sono na tentativa de se resolverem por si só.

Ou de se entender. A regra dos nove, as leis de Newton ou as pontes de carbono não explicam as batidas do meu coração, nem tampouco esse suceder de fases que me aceleram e me freiam. Volto a pensar que estanquei. A moça continua dormindo. O moço, absorto em sua leitura, viaja além das esquinas que o motorista apressado nos guia. Aqui dentro, ando devagar. Mas não me engano, toda essa calmaria não faz meu estilo. Puxo a corda, meu ponto é o próximo.

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