Quando aconteceu, eu nunca achei que seria possível sentir tanta dor. Mas aí veio a hora de entrar naquele salão e encontrá-lo ali, inerte, calado. Era tão difícil vê-lo calado.
No segundo dia, a dor se renovou e, mais uma vez, eu pensei aqui comigo: não vai ser possível sentir tanta dor novamente. Só que vieram o terceiro dia, o quarto, o quinto, o décimo nono... Há trinta dias, minha rotina se tornou uma contagem. E na hora da dor aguda, a qual entendi ser a chamada de saudade, tudo que a gente pede é que a contagem seja regressiva.
Em alguns momentos até pareço me sentir mais forte. Veja, se eu sobrevivi ao primeiro dia e à sequência que ele trouxe, será difícil me derrubar. Contradições ou apenas bobagem. Vejo-me fraca, sem forças. A minha primeira grande perda me derrubou. Pensar que a sequência dessa contagem caminha entre nós silenciosa, sem aviso prévio, é assustador.
Eu sei que conforta ouvir que vai passar. Mas que me perdoe o clichê, pois não passa. A vida jamais será a mesma. O que ela faz, no ciclo contínuo da existência, é nos atropelar e seguir adiante. Muitas vezes sem nos permitir sequer tempo para olhar pra trás.
Descobri que eu nunca havia sentido saudade. Já senti muita distância na vida, é bem verdade. Mas saudade, repare, ganhou um novo significado. Ressiginificar a vida é o grande legado da morte.
A solidão perdeu o tom melodramático e agora representa perigo que deve ser evitado. O medo se tornou um gigante, que fica repetindo a todo instante que sim, acontece de verdade. Não poder fazer nada para recolher a dor que engole a nós e a quem mais amamos paralisa. A impotência se mostrou mais cruel.
Sinto tantas mudanças. Apego-me, no entanto, ao maior desses novos significados para enfrentar a realidade que destoa do mundo com a qual eu sempre estive acostumada. É o que tenta, timidamente, colorir o cinza que tingiu tudo. Cuidemos de quem amamos, cuidemos de quem precisa tanto de amor. Cuidemo-nos. Porque amor é cuidar e ser cuidado.
Imagem: Google
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