quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Período de experiência


Ela lembrou do antigo documento azul, marcado apenas por aquele período de tempo significativo, tão significativo que bastou para negar tudo o que poderia ser. E não foi. Três meses, isso foi tudo: período de experiência e ponto final. Sem vírgula ou esperança de prolongar estória com reticência.

Quem vai entender cabeça de gente? Em tempos de tanta bagunça social, política, econômica, ambiental, ele insistiu em abafar a brisa leve, daquelas que carrega semente e diverte cachorro, que levanta focinho pra sentir o vento. Planta no barro não vingou, cacto sem sol adoeceu. E isso foi tudo.

Não deu tempo de indicar as crônicas do Caio Fernando ou comentar Jorge Amado e caminhar entre as memórias dele e de Zélia. Parados ali na esquina entre Guimarães e Drummond, tantas eram as possibilidades de futuro. Mas tomaram direções opostas, negando aquele encontro, pouquinho de saúde, que significou descanso na loucura.

Como é que intensidade e vontade de viver ainda assustam nesse mundo de tantas voltas assustadoras? Ao olhar pra trás e não enxergar ponto de desencontro, ela avistou nova lembrança. Pensou em Cazuza e na lição da primeira vez: “a gente tem mais é que se apaixonar”. Sorriu. Só assim sabia ser. 

Piscou para o céu cinza de frio anunciado, sussurrou bom dia para as flores que coloriam a calçada e se apaixonou pela sua coragem. Era hora de voltar para o papel em branco e escrever estórias. 

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